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Episódio 45: Vida em NY - Bairros famosos

Por Duolingo — quarta, 06 de dezembro de 2023

Hoje vamos pra dois dos bairros de imigrantes mais animados de Nova York: Chinatown e Washington Heights.

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Transcrição

Helena: Quando Annie Tan era pequena e voltava pra casa depois da escola, ela passava por vitrines com letreiros em mandarim e cantonês. No caminho, ela sentia o cheiro dos deliciosos pratos de macarrão das barraquinhas, ou stands, nas calçadas e andava entre os mercados de rua que vendiam frutas e verduras frescas.

Annie: I was amazed when I watched the loud trucks move big boxes of fresh fruits and vegetables. And sometimes, when no one was looking, I took a small piece of shrimp from the food stand and put it in my mouth quickly as I walked.

Helena: Annie passava por peixarias com bacalhau e outros peixes frescos expostos sobre o gelo. Ela corria pra fugir do mau cheiro que vinha do metrô e do esgoto. E às vezes ela parava numa loja chamada Chinese Hispanic Grocery pra comprar alguma coisa pra comer.

Annie: I walked into the shop and greeted the Puerto Rican man at the counter in Spanish. I said, “Hola, ¡buenas tardes!” And then, to my surprise, he responded in Cantonese! That’s what Chinatown is like. Most people who live here are from China or have Chinese families, but there is still a mix of cultures and languages. I loved that this man respected my culture enough to learn a few words of my language.

Helena: Assim era a vida no bairro chinês de Nova York, o famoso Chinatown. Pra maioria dos turistas, o bairro é uma curiosidade cultural. Mas pra Annie, era sua casa — por mais que na época ela não entendesse aquilo completamente.

Annie: It was a great place to grow up, but I don’t think I really appreciated the beauty of Chinatown, and how much it affected my life, until I was older.

Helena: Atenção, passageiras e passageiros, welcome to Destinos Duolingo! Eu sou Helena Fruet e vou te guiar nessa viagem. Nesse podcast, vamos explorar a história e a cultura de diferentes cidades do mundo e aprender inglês com os próprios moradores! Eu vou te acompanhar em cada destino e não vou deixar você se perder. Você encontra a transcrição completa de cada episódio em podcast.duolingo.com.

Nessa primeira temporada do podcast, embarcamos pra Nova York, a cidade que nunca dorme! Você vai conhecer alguns dos seus 8 milhões de habitantes e explorar lugares que muita gente sempre sonhou em visitar.

Hoje vamos pra dois bairros superanimados de Nova York, formados em sua maioria por imigrantes: Chinatown e Washington Heights. A mala tá pronta? Então vamo lá!

Helena: A cidade de Nova York tem a maior população chinesa fora da Ásia. Só nos sete ou oito quarteirões que formam Chinatown, vivem cerca de 100 mil pessoas de ascendência chinesa. Elas falam diferentes dialetos do chinês, dependendo de onde vieram. O bairro é lotado — e Annie gosta dele desse jeitinho!

Annie: When you walk around Chinatown, there are so many interesting things to see and eat. Even though it’s crowded, I see my neighbors all the time. My mom is super outgoing, so she says hi to everyone she knows — in lots of different Chinese languages, like Cantonese, Toisan, and Mandarin.

Helena: O bairro é todo diverso e colorido. As placas têm palavras em inglês e chinês. Lanternas de papel vermelho penduradas de um prédio pro outro enfeitam as ruas. Letreiros de neon iluminam a noite. E uma vez por ano, o Desfile do Ano-Novo Lunar vira o centro das atenções.

Annie: Lunar New Year was the only holiday where most kids in Chinatown didn’t go to school. It’s our most important holiday. When I was a kid, I loved hearing the drums and watching the celebration in the streets. I also liked getting money in red envelopes from the adults, which is a Lunar New Year tradition.

Helena: Quando Annie era pequena, sua mãe era costureira numa fábrica de roupas, e seu pai trabalhava seis dias por semana como pedreiro. Eles moravam num apartamento pequeno, no quinto andar. Os sons e os cheiros de Chinatown entravam pelas janelas.

Annie: We had three bedrooms. My father had his own room, and my mother, my two brothers, and I slept in another room. Sometimes, my parents rented the third bedroom for extra money. Or, if our family from China was visiting, they stayed with us. So, even though there were five people in my family, there were sometimes ten or twelve people living in our apartment!

Helena: Os pais de Annie nunca aprenderam inglês, mas morar em Chinatown significava que eles quase nunca precisavam falar inglês. Foi só mais tarde, quando Annie ficou mais velha, que a barreira do idioma virou um problema pra família.

Annie: People in the neighborhood spoke a lot of different Chinese languages, like Cantonese, Mandarin, and Fuzhounese, so we didn’t always understand each other. We created our own way of talking, and we often used hand signals. At home, my brothers and I spoke English to each other. It was sometimes difficult to talk to our parents because they didn’t understand, so we used a little Cantonese and a little English to communicate with them.

Helena: Em 2004, quando tinha 14 anos, Annie entrou numa escola de ensino médio no Brooklyn, o bairro do outro lado do rio. Ficava só a uma estação de metrô de Chinatown, mas era como ir pra outro planeta.

Annie: In high school, I began to see that there was a lot more to the world than Chinatown. Then in college, I met so many new people from different places.

Helena: Annie se matriculou na Universidade de Columbia. Ficava 14 quilômetros ao norte, também em Manhattan, mas era uma realidade muito diferente.

Annie: When I went to the grocery store near Columbia, I thought a lot about my childhood. There was a shop on our street in Chinatown that sold chicken, and while my mother shopped, she left us with the owner. In my Chinatown, people trusted each other a lot. At Columbia, the community didn’t feel the same to me.

Helena: A faculdade foi só o começo da vida de Annie longe de Chinatown. Depois de terminar os estudos, ela se mudou pra Chicago, a mais de 1.200 quilômetros de distância, pra trabalhar como professora.

Annie: I taught a lot of Mexican students in Chicago, and I tried to show them that it’s very special to grow up in a home with different cultures. Sometimes, it’s difficult for children to connect to their family’s culture, but I always taught them to love and appreciate that part of their lives.

Helena: Como muitas cidades grandes dos Estados Unidos, Chicago também tem um bairro chinês. Pra Annie, essa Chinatown nunca esteve à altura da sua Chinatown, aquela da sua infância. Foi nessa época que ela começou a perceber o quanto aquele bairro de Nova York tinha marcado sua vida.

Annie: Chinatown in Chicago has a different history than Chinatown in New York City. The community didn’t feel the same to me, and it was less busy. I also missed the amazing Chinese food I used to eat at home all the time. At the end of the day, it just wasn’t New York City.

Helena: Depois de cinco anos, Annie começou a ter saudade da comunidade e das relações que tinha deixado em Nova York. A verdade é que ela sempre tinha se esforçado pra manter contato com sua família, mas era… difícil.

Annie: Because of our language differences, my parents and I couldn’t really communicate well on the phone. My father called me every day, but we only spoke for 30 seconds. He always asked, “How are you?” and “What did you eat today?” and that was all. I felt like I couldn’t connect with him.

Helena: Naquela época, Annie tava virando ativista dos direitos dos ásio-americanos. Ela se esforçava muito pra combater o ódio contra asiáticos nos Estados Unidos, mas os pais dela não entendiam muito bem o que ela fazia, e isso gerava atritos.

Annie: I was trying to make positive changes for Asian-Americans, but that was hard to explain to my parents. They didn’t understand my goal, and they didn’t want me to get into trouble. I think a lot of people who are the children of immigrants in the U.S. have the same problem.

Helena: No fim das contas, Annie percebeu que só tinha uma solução.

Annie: I realized that I couldn’t connect with my parents unless I went back home.

Helena: Annie voltou pro bairro chinês de Nova York pra se reconectar com sua família. Ela aceitou um emprego como professora em Sunset Park, uma região do Brooklyn muito diversa culturalmente. Lá, Annie voltou a dar aulas pra estudantes mexicanos e também encontrou formas especiais de se conectar com seus vários alunos chineses.

Annie: I felt like this was a way to help the Asian-American community — and all immigrant communities. I think it’s so important to teach people to be proud of their culture when they’re young, and I felt like my students responded well to this lesson.

Helena: Annie também começou a fazer aulas de cantonês pra aumentar seu vocabulário e se comunicar melhor com os pais.

Annie: That changed my relationship with my family in a huge way. I practiced speaking and pronouncing words with my parents. And I was even able to help them study for their test to become U.S. citizens!

Helena: Annie tava feliz por estar ali, poder curtir a rica cultura de Chinatown e retomar o contato com os pais, que trabalharam tanto pra criá-la. Ela tinha, enfim, voltado pra sua comunidade.

Annie: There’s a great sense of community in Chinatown. People like to take care of each other. Chinatown really helped me to become the person I am, and I am grateful to my parents for that. I’m so proud to be both Chinese and a New Yorker.

Helena: Chinatown fica no centro, ou downtown, de Manhattan. Nossa próxima história se passa na zona norte, ou uptown, mais especificamente em Washington Heights, um bairro conhecido e com uma rica história de refúgio pra imigrantes. Hoje, o bairro tem muitos porto-riquenhos, cubanos e principalmente dominicanos. Led Black cresceu ali. Seus pais eram imigrantes da República Dominicana.

Led: I love the history of my neighborhood. When I was growing up in the 1980s, it was considered a dangerous area. But for the people who lived there, it was a vibrant community of immigrants. A lot of people grew up in small apartments where several generations of families lived.

Helena: Washington Heights tem uma arquitetura histórica, escadas de concreto, ou stoops, na frente das casas, grafites e murais coloridos, mercearias de esquina, carrinhos de sorvete… e um burburinho constante.

Led: Washington Heights is full of energy and life. When you walk down the street, you’ll see groups of people playing dominoes, or laughing and hanging out on stoops. Washington Heights is like one big family.

Helena: Led cresceu numa casa tão animada quanto o bairro. Todos na família tinham suas preferências musicais. A mãe ouvia boleros, o pai gostava de músicas latinas mais modernas, e o irmão escutava salsa. Já Led gostava de hip hop. A avó também morava com eles, e o som do dominó era música pros ouvidos dela.

Led: When I was growing up, a lot of kids in the U.S. got Xboxes for Christmas, but kids from Dominican families got a box of dominoes. It doesn’t matter how old you are, or if you are a man or a woman — everyone plays dominoes. I remember playing with my mom, my aunts, or anyone who came to my house.

Helena: A vida em Washington Heights podia ser difícil naquela época, por causa das drogas e da violência nas ruas. Mas pra Led, a melhor parte do bairro eram as pessoas. Aos domingos, quando era jovem, a família e os vizinhos se reuniam na sua casa, que ficava supermovimentada.

Led: My mom cared a lot about her community and she took care of our neighborhood. On my street, she was known as “the numbers lady” because she was in charge of the Dominican lottery every Sunday. So, everyone always came to her to pick their lottery numbers.

Helena: Na loteria dominicana, os jogadores escolhem os números de acordo com seus sonhos na noite anterior. Os vizinhos da mãe de Led contavam os sonhos pra ela, e ela anotava os números. Aí ela fazia comida e chamava eles pra passar a tarde lá.

Led: While our neighbors were playing the lottery, they ate big bowls of my mom’s hot mondongo, which is a popular Dominican soup. So, my mom helped create a special place where people could hang out and enjoy food from their home country.

Helena: Quando era pequeno, Led tinha vários amigos na vizinhança. Mas quando foi fazer o ensino médio na Bronx High School of Science, uma escola pública famosa nos arredores de Washington Heights, ele sentiu que não conseguia se conectar com seus colegas de turma. Led sofreu com o choque cultural, ou culture shock.

Led: My family really wanted me to go to the Bronx High School of Science because it was such a good school. I wasn’t really happy about it because it was far from home, and I didn’t feel like I was the same as the other students. I had to take three trains to get there, and it took an hour. And then once I got there, I felt a real culture shock. People there had a lot of money, and although I grew up with food on the table, I was poor compared to them. I didn’t realize I was different until I went to that school.

Helena: Mesmo assim, Led conseguiu manter os laços com os amigos do bairro. O primeiro ano na escola foi difícil, e a viagem que ele tinha que fazer todo dia era cansativa. Mas um dia, esse mesmo trajeto que Led fazia de trem mudou sua vida.

Led: There was a group of girls who took the same train as me every day. We never talked, but I remember some of them looking at me. And then one day, one of those girls came up to me and said, “Hey, my friend likes you.” And that’s how I met my future wife, Eileen, when we were 15 years old.

Helena: No fim dos anos 90, Led e Eileen foram morar em outro bairro, o Bronx. Mas não sentiram que era um lugar pra eles, porque não dava a sensação de estar em casa que eles tinham em Washington Heights.

Led: We moved back to Washington Heights. I knew that I always wanted to be back in the neighborhood where I grew up.

Helena: Led e Eileen tavam casados há 19 anos e tinham três filhas. Ele experimentou o mundo dos blogs, publicando seus textos na internet. Em 2008, Led tinha 34 anos e tava feliz. Até que recebeu uma notícia difícil.

Led: I was at work and I got a phone call from my wife. She was at the doctor’s office, and they told her that she had a very aggressive form of cancer. It was a very scary and difficult time for us. But my wife has always been very brave.

Helena: No dia seguinte ao diagnóstico, a mãe de Led deixou sua vida de semiaposentada na República Dominicana pra se mudar pra Nova York. A mãe da esposa dele fez a mesma coisa. Elas ajudavam em tudo — cozinhavam, limpavam e cuidavam das meninas, que tinham 2, 4 e 9 anos. As duas também tentavam animar Led. E a melhor forma de fazer isso era jogando dominó.

Led: Our mothers helped us so much. It was a really bad time, but I felt very connected to my family. My house was so full of love and support, and there were always people playing dominoes. It felt like a nice break from our difficult life, but I won’t lie, there were definitely times when I thought to myself, “There’s no way I can deal with this.”

Helena: Com o apoio dos amigos e da família, Eileen terminou o tratamento contra o câncer em abril de 2009, e em 2010 ela tava curada. Foi uma jornada extremamente difícil, mas Led acredita que ele e sua família saíram dessa mais fortes do que nunca.

Led: Before I found out that my wife had cancer, I never thought about death. But after I found out, I started to think about everything that really mattered in life, and I started writing about my experiences.

Helena: Led acha que ter crescido no que se considerava um bairro difícil e perigoso deu força pra ele seguir lutando, inclusive nos momentos mais sombrios. A admiração dele por Washington Heights só cresceu, e ele até escreveu sobre a experiência no blog pessoal.

Led: As a kid, I never understood how important Washington Heights was to New York City. But on my blog, I really wanted to share the history of my neighborhood with the world and keep our culture alive.

Helena: Led também queria combater os estereótipos do seu bairro. Pra ele, a vizinhança era charmosa, e não caótica. Era complexa, não perigosa.

Led: Over time, I realized that Washington Heights was changing in a positive and exciting way. And I really wanted to write about this new energy and help make it even better.

Helena: Led continuou escrevendo sobre a vida no bairro e em 2010, lançou o Uptown Collective, um site focado em notícias e na cultura de Washington Heights e de outros bairros considerados perigosos.

Led: I like to think that I’m like my mother with the Dominican lottery. She was creating a community and I’m trying to do the same thing with this site. I want everyone in Washington Heights to know that this is a great neighborhood. It is a wonderful place to stay and build a family and a community.

Helena: O Uptown Collective tem um tom positivo, enfatizando as boas notícias. O lema da equipe é: “Espalhe amor, do jeito Uptown”.

Led: A lot of people have come to the U.S. and made this neighborhood their home. For many, it was just a temporary stop before moving somewhere else. But now, I think people are realizing that they don’t need to move. They can stay here. This is Washington Heights.

Helena: Annie Tan é professora e ativista e mora em Nova York. Led Black é escritor e fundador do Uptown Collective. E ele ainda arruma tempo pra jogar dominó com a mãe todo sábado.

Esse episódio foi produzido por Jackie Noack, produtora que mora em Somerville, no Massachusetts.

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Destinos Duolingo é uma produção de Duolingo e Adonde Media. Você encontra o áudio e a transcrição de cada episódio em podcast.duolingo.com. Segue a gente no Spotify ou na sua plataforma preferida!

Eu sou Helena Fruet. Safe travels!

Créditos

Esse episódio foi produzido por Duolingo e Adonde Media.

Apresentação: Helena Fruet
Protagonistas: Annie Tan e Led Black
Edição do roteiro: Grant Fuller
Editor-chefe: David Alandete
Produção e edição da adaptação ao português: Giovana Romano Sanchez
Assistente de produção: Caro Rolando
Gerente de produção: Nicolás Sosa
Sound design: Daniel Murcia e Giovana Romano Sanchez
Mixagem e masterização: David De Luca e Juan Pablo Culasso Alonso
Produção-executiva e edição: Martina Castro