Nesse episódio, contamos a história de dois atletas que superaram seus próprios limites em busca de um sonho.
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Transcrição
Helena: A geleira de Khumbu é considerada a parte mais assustadora da escalada ao Monte Everest. Dela podem cair enormes blocos de gelo em grandes velocidades, capazes de esmagar os alpinistas de uma hora pra outra. Outro desafio é atravessar as centenas de fendas, ou crevasses. Em 2003, Sibusiso Vilane, um alpinista sul-africano de 32 anos, estava parado diante da geleira. Ele sabia que sua vida tava em risco.
Sibusiso: In the Khumbu Icefall, it’s possible to die at any second. You have to walk across hundreds of crevasses in the ice. They are so deep that you can’t see the bottom.
Helena: Mas Sibusiso precisava cruzar aquela geleira. Era o último obstáculo que o separava do título de primeiro africano — e primeiro homem negro da história — a chegar no topo do Monte Everest.
Sibusiso: I did not turn back. You need to have a very strong mind to ignore these obstacles. If you are brave enough to do that, then nothing will stop you.
Helena: Welcome! Esse é o quarto episódio da segunda temporada de “Histórias em Inglês com Duolingo”. Eu sou Helena Fruet. Nesse podcast, você vai poder praticar inglês no seu ritmo, ouvindo histórias reais e emocionantes.
Os personagens falam um inglês simples e fácil de entender — perfeito pra quem tá aprendendo. Eu vou te acompanhar em cada episódio pra ter certeza que você tá entendendo tudo.
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Essa semana, vamos ouvir a história de dois atletas de esportes radicais que quebraram barreiras, ultrapassaram limites e também se transformaram num exemplo a ser seguido.
Nosso primeiro protagonista vem da África do Sul. Por isso, você pode notar que ele não pronuncia o “R” no meio de algumas palavras. Por exemplo, ouça como ele fala a palavra “person”:
Sibusiso: He was a very interesting person.
Helena: Ele também não pronuncia o “R” no final de algumas palavras, como “never”:
Sibusiso: And never afraid.
Helena: Hoje, o nome de Sibusiso Vilane aparece nos livros didáticos da África do Sul. Ele chegou a conhecer o ex-presidente Nelson Mandela e até a rainha Elizabeth II da Inglaterra! Mas, quando ele era pequeno, Sibusiso era só um menino que não tinha sapatos.
Sibusiso: My sister and I didn’t have shoes. And some days, we didn’t eat because my grandma couldn’t afford any food. It was very difficult.
Helena: Sibusiso nasceu na África do Sul, mas passou a infância com a avó numa aldeia rural da Suazilândia, país vizinho. Ele só foi pra escola aos 10 anos de idade.
Sibusiso: Before I went to school, I’d never read anything in my life. I liked staying in a classroom all day a lot more than taking care of animals outside. I really loved school and I always did well. I never missed or failed a grade. When I finished high school, I was accepted to college, but I knew I could never go.
Helena: Como a família de Sibusiso não podia pagar uma faculdade, ele virou guarda florestal num parque. Foi lá que ele conheceu John Doble, o homem que ia mudar sua vida. Doble era embaixador da Grã-Bretanha na Suazilândia.
Sibusiso: I met John Doble when I was twenty-six years old, in 1996. He was a very interesting person, very sociable and sincere. He loved people. Doble came into the tourist office where I worked. He explained that he was new to Swaziland, and he wanted to join a weekend hiking group.
Helena: Sibusiso se ofereceu pra levar Doble numa excursão. E foi assim que eles se encontraram num final de semana, perto de uma cachoeira enorme. Doble perguntou se Sibusiso poderia ajudá-lo a escalar até o topo.
Sibusiso: When we were going back down the mountain, Doble told me that I was an amazing climber. He said I looked so relaxed — and never afraid. Then, he had a question: “Why aren’t there more mountain climbers in Africa?”
Helena: Sibusiso nunca tinha se perguntado isso. E ele disse ao Doble que o alpinismo não parecia ser uma paixão africana.
Sibusiso: I explained, “We Africans aren’t very excited to climb to the top of a mountain, only to have a view of our house. And there are very few Africans who can afford to travel to other countries to climb mountains.”
Helena: Sibusiso não conhecia nenhum outro sul-africano negro como ele que escalasse montanhas por hobby. Isso foi em 1996, logo depois do fim do Apartheid, o regime de segregação que discriminava os cidadãos negros na África do Sul. Por décadas, os sul-africanos negros tiveram seus direitos negados e foram sistematicamente excluídos do mercado de trabalho e de outras oportunidades. O alpinismo era um passatempo pra brancos e ricos.
Sibusiso: I thought that was the end of the conversation, but Doble continued to talk. He said, “Sir Edmund Hillary and Tenzing Norgay were the first people to climb Mount Everest in 1953. But since then, I don’t think an African person has ever tried to do it.”
Helena: E então, Doble fez a pergunta que iria mudar a vida de Sibusiso.
Sibusiso: Suddenly, Doble was very serious. He said, “If you had the money and the equipment to climb Everest, would you do it?”
Helena: Sibusiso não sabia o que dizer. Ele nunca nem tinha ouvido falar do Monte Everest. Não tinha visto foto. Não fazia a menor ideia de quão alto era ou em que país ficava! Mas ele não queria que John Doble soubesse disso.
Sibusiso: I didn’t know why, but I just wanted to say “yes.” So I told him, “If I had everything I needed to climb Everest, then yes, I would do it.”
Helena: Pra Sibusiso, aquela conversa não tinha tido muito significado. Mas Doble levou a sério. E depois da caminhada, ele começou a captar recursos de patrocinadores, ou sponsors, pra que Sibusiso participasse de uma expedição guiada no Everest.
Sibusiso: It took six years to find a sponsor for me. I was still working at the park when I got the letter from John. He asked me if I still wanted to climb the tallest mountain in the world. I said, “Yes!” But it wasn’t just for me, it was for my continent. I wanted to show the African people — and the world — what we could achieve.
Helena: Enquanto se preparava pra subir o Everest, Sibusiso escalou a cordilheira do Drakensberg, a mais alta da África do Sul. Ele também subiu o monte Kilimanjaro, o mais alto de toda África.
Sibusiso: The scenery was incredible. At that moment, I understood why people climb mountains. It’s not about the difficulty of climbing. It’s about the powerful beauty of nature. When I worked in the nature reserve in Swaziland, I often forgot about how beautiful it was. But when I was hiking on Kilimanjaro, I knew exactly why people climbed mountains.
Helena: A expedição de Sibusiso no Everest começou em março de 2003. Ele se juntou a nove alpinistas e dois guias pra subir em dez dias até o acampamento-base, ou base camp. A expedição inteira ia durar dois meses. E mesmo depois de todo o treinamento, Sibusiso não entendia por que ia demorar tanto.
Sibusiso: I thought we were going to spend a day or two resting at base camp and then go to the next camp, further up the mountain. And then to the summit. But they told me, “No, that’s not how it works.”
Helena: O acampamento-base do Everest fica a 5.600 metros de altitude, e o pico, ou summit, a 8.848 metros.
Sibusiso: After we got enough rest at base camp, we climbed up to the next camp. We spent the night there, and then they told us to go back down to base camp. I didn’t understand that. We worked so hard, and it took a lot of energy and effort to climb. But that’s what we had to do. We went up a little bit and then came back down a few times. It was because our bodies needed to acclimatize to the high altitude and lower oxygen levels.
Helena: Subir e depois ter que descer de volta pra se acostumar com a falta de oxigênio foi frustrante pro Sibusiso. O frio foi outro grande obstáculo. O Everest tem seu próprio sistema meteorológico: às vezes, nevascas aparecem do nada e duram dias!
Sibusiso: I’ve never felt temperatures as cold as on Everest. After the sun went down, temperatures were minus 15 to minus 20 degrees Celsius. And that was very difficult, especially for sleeping. When it’s minus 20 degrees, even if you have a sleeping bag and a tent, it’s very hard to sleep because of the cold.
Helena: Era um desafio físico, mas também um grande desafio mental. Pelo menos 300 pessoas já morreram tentando escalar o Everest, seja por frio, por problemas com a altitude ou por quedas.
Sibusiso: I asked myself a lot of questions, like, “Why am I here? Why am I suffering? It’s much more comfortable at home.” But then I thought, “Yes, this is very uncomfortable, but I want to do this.” I argued with myself a lot.
Helena: Depois de 60 dias escalando o Everest, Sibusiso chegou no topo da montanha na manhã do dia 26 de maio de 2003. Ele teve que cruzar a geleira de Khumbu várias vezes e desafiar a “zona da morte”, que fica acima de 8 mil metros.
Sibusiso: Those two months were so difficult in many ways. So, the moment when I finally stood on the summit of Mount Everest will always be very important to me. I always believed it was possible to achieve amazing things, and that moment is when I realized it was true.
Helena: Na mesma hora, Sibusiso virou um herói. Isso foi muito importante pra África do Sul, que naquele momento tava saindo do doloroso regime do Apartheid.
Sibusiso: When I was growing up, Black people were not given opportunities or considered equal. We weren’t expected to be leaders or explorers. But there I was, at the top of Everest!
Helena: Sibusiso conta que ele se transformou depois que voltou do Everest. Ele passou a dedicar a vida a inspirar mudanças nos outros.
Sibusiso: I think every person has great potential. You must have determination and you must work hard, but it’s possible to achieve amazing things. And that’s what I learned during the 60 days that I was on Everest.
Helena: Assim como as montanhas, as ondas podem chegar a alturas impressionantes. No surfe, existem as ondas gigantes, ou big waves. Um exemplo são as Mavericks, ondas que se formam na costa da Califórnia, perto de São Francisco, nos Estados Unidos. Bianca Valenti é fascinada por Mavericks há muito tempo.
Bianca: In my imagination, it was like the Mount Everest of big waves. Mavericks is one of the craziest and heaviest big waves in the world. It’s mysterious, dark, and scary. It’s about two kilometers out in the sea, right next to a huge canyon under the water.
Helena: Em condições favoráveis, essas ondas podem chegar a 18 metros de altura, o tamanho de um prédio de seis andares. Duas pessoas já morreram surfando Mavericks.
Bianca: The waves are really tall, but they’re also really thick. A wave at Mavericks weighs around 100,000 kilograms. It can push you down below the ocean — 10 meters down, where it’s totally dark. Down there, you can’t breathe or call anyone for help. So surfing this wave is serious…and a challenge.
Helena: Mas Bianca nunca teve medo de desafios. Ela surfou a vida toda, e escolheu o surfe como carreira logo depois de sair da universidade. Mas quando tentou pegar sua primeira grande onda, ela quase morreu.
Bianca: It was at Ocean Beach in San Francisco, in 2007. I started the day surfing with my friend. I didn’t know the size of the waves until I was out in the ocean. Suddenly, there was a really big mountain of white water, and I dove under that. The next wave was massive — I had never seen anything like it. It was almost the size of a house.
Helena: A onda empurrou Bianca pra baixo e arrancou a prancha de surfe da sua mão. Ela só via a escuridão.
Bianca: I was now completely alone. The wave made my body roll and turn in every direction. I felt like I was in a gigantic, crazy washing machine. It pushed me all the way to the bottom of the ocean. My feet touched the sand. I was so tired after that, but I swam very slowly back to the top.
Helena: Quando voltou pra praia, Bianca ficou na areia olhando as ondas. E em vez de desistir, ela sentiu mais força e determinação pra continuar tentando.
Bianca: After that, I knew I wanted to surf those big waves. But after a while, it became about something much bigger: advocating for women in surfing and making sure we have equality. Period.
Helena: Sarah Gerhardt foi a primeira mulher a surfar Mavericks, em 1999. Desde então pelo menos doze mulheres fizeram o mesmo. Mas esse número ainda é bem menor do que o de homens.
Bianca: In surfing, there are still many more men than women. When I was growing up, I mostly saw men and boys surfing — all the time. It was very rare to surf with another woman or girl. That’s changing now, but it’s still estimated that 90% of surfers are male, and only 10% are female.
Helena: Depois daquela primeira onda gigante, Bianca passou cinco anos treinando. E em 2012, ela finalmente enfrentou as Mavericks.
Bianca: I was still scared of Mavericks. But at the same time, it really attracted me. When I finally surfed a wave there, it wasn’t the biggest wave of the day, but it was the biggest wave that I ever surfed. I went home, really inspired. I thought, “OK, I need to work harder now.”
Helena: Além de ondas gigantes, Mavericks também é o nome de um campeonato de surf que acontece no inverno. Mas nunca nenhuma mulher tinha sido chamada pra competir. Era um evento feito por homens, pra homens.
Bianca: I wanted to compete at the Mavericks competition. And I was friends with other female surfers who wanted to be in the competition too. It’s one of the most challenging big waves you can surf, so you have to be really good.
Helena: Pra ser bem-sucedido no surf profissional é preciso ganhar competições. E Bianca ficou incomodada em saber que nunca convidaram uma mulher pra competir no Mavericks. Então, em 2014 ela e outras surfistas pediram pros organizadores do evento criarem uma categoria feminina.
Bianca: We wanted to get into the competition, and we weren’t going to give up. So, we made a plan. We spoke to the organizers of the event, and they said, “Oh, yeah, great. Good idea.” But then…nothing happened.
Helena: Bianca e suas colegas perceberam que pedir não era o suficiente. E foi assim que elas criaram o Comitê pela Igualdade no Surf Feminino, pra lutar pela inclusão das mulheres no evento. O comitê foi até o estado da Califórnia, que controla as permissões pra organização do Mavericks.
Bianca: We really just wanted the people from the government agencies to know that women surf big waves too. And we’re really good at it! So, we showed them our surfing videos. And finally, in 2016, it worked. They said the event had to include women.
Helena: Mas a Liga Mundial de Surf, ou World Surf League, que organiza o evento, propôs pagar pras mulheres surfistas um prêmio bem menor que o dos homens. Seriam 15 mil dólares pra mulher que ganhasse o primeiro lugar e 25 mil dólares pro homem vencedor.
Bianca: It’s insulting! Women are paid so much less than men…for surfing the same wave. It’s incredibly dangerous. We could die! Our goal is to have a better future for women surfers. If women are doing the same thing as men, we deserve the same amount of money. Money is a sign of respect.
Helena: Assim, em 2018, o grupo da Bianca voltou a apelar pro estado da Califórnia. Elas escreveram cartas, muitas cartas, e apresentaram a campanha nos meios de comunicação. E... deu certo!
Bianca: The state of California said to the World Surf League, “You can’t have an event at Mavericks, unless you have a women’s division and pay women equally.” And those weren’t just the rules for Mavericks — they were for all future events in California.
Helena: Bianca e suas companheiras surfistas já tinham entrado pra história, mas não acabava aí. Uma semana depois, a Liga Mundial de Surf anunciou que ia dar premiações iguais pra homens e mulheres em todos os seus eventos, não só na Califórnia.
Bianca: The World Surf League decided to pay equal prize money to women in all divisions at the events that they run all over the world. It was a victory for female athletes.
Helena: Nos últimos anos, as ondas Mavericks não têm sido grandes o suficiente pra outro campeonato, mas assim que uma nova competição acontecer, Bianca vai tá lá. Até que esse dia chegue, ela continua a comemorar a grande vitória do Comitê de Igualdade participando de outros eventos, como quando ela foi pro México e pegou a maior onda da sua vida, de 16 metros!
Bianca: That’s when I thought, “OK, now this feels like a victory.” I imagined little girls and boys seeing the male and female surfers together, with the same amount of money on our checks. We worked so hard and for so long, and that was the big moment we were waiting for. It takes a lot of small victories to make a big difference and create a “big wave.”
Helena: Bianca Valenti vive em São Francisco, na Califórnia, e continua lutando pela representatividade feminina no surf pelo mundo afora. Ela ganhou vários campeonatos mundiais — o último foi a Copa de Puerto Escondido.
Dois anos depois da sua primeira escalada, Sibusiso Vilane, nosso primeiro protagonista, voltou a subir o Everest. Ele vive com a família na província de Mpumalanga, na África do Sul.
Esse episódio foi produzido por Julia Scott, jornalista de Oakland, na Califórnia.
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Créditos
Esse episódio foi produzido por Duolingo e Adonde Media.